Serpentes peçonhentas do Brasil: reconhecimento e primeiros socorros

É fundamental poder reconhecer esses grupos para prevenir acidentes e saber como agir se eles acontecerem. Procedimentos inadequados podem levar o acidentado à morte.
As cobras peçonhentas que ocorrem no Brasil pertencem a dois grupos: crotalíneos, responsáveis por 99% dos acidentes, e elapíneos, responsáveis por 1% dos acidentes com cobras peçonhentas.

Crotalíneos
Os crotalíneos apresentam as seguintes características, que os distinguem das demais serpentes:
a) cauda diferenciada do restante do corpo e que pode ser de três tipos, dependendo do gênero:
·         cauda lisa, em Bothrops (gênero ao qual pertencem as jararacas);
·         cauda com escamas arrepiadas, em Lachesis (gênero ao qual pertence a surucucu);
·         cauda com chocalho, em Grotalus (gênero ao qual pertence a cascavel);

b) cabeça triangular, recoberta por escamas pequenas; presença de fosseta loreal, estrutura localizada entre os olhos e as narinas, com função termorreceptora, que permite aos crotalíneos perceber o calor do corpo de suas vítimas. A presença de fosseta loreal gerou a denominação popular cobras-de-quatro-ventas (venta significa narina) desses animais. Isso porque temos a impressão de que esses crotalíneos possuem quatro narinas, uma vez que a fosseta loreal é um orifício semelhante à narina, porém com estruturas e funções distintas; dentição solenóglifa;

c) parte superior do corpo recoberta por escamas sem brilho, dotadas de quilha.
O veneno das cobras pertencentes ao gênero Bothrops tem ação proteolítica, coagulante e hemorrágica; no gênero Crotalus, o veneno tem ação neurotóxica, coagulante e miotóxica; e no gênero Lachesis tem ação proteolítica, hemorrágica e neurotóxica.

Elapíneos
As serpentes do grupo dos elapíneos são chamadas de corais-verdadeiras e pertencem principalmente ao gênero Micrurus. Possuem, em geral, anéis vermelhos no corpo, alternados com anéis de outras cores, como preto e amarelo, embora exista na Amazônia uma espécie de coral-verdadeira que não possui anéis no corpo e tem coloração escura ou preta, às vezes com manchas avermelhadas.
Os elapíneos são cobras peçonhentas que se assemelham muito a outros grupos de cobras de coloração avermelhada e com anéis coloridos no corpo, chamadas de falsas-corais. São vários os gêneros e as espécies de falsas-corais, e a distinção entre elas e as corais verdadeiras é muito difícil.
As corais, verdadeiras ou falsa, possuem corpo recoberto por escamas lisas e brilhantes e cabeça arredondada recoberta por escamas grandes; não possuem fosseta loreal. A fosseta loreal também está ausente nas cobras não-peçonhentas pertencentes a outras espécies.
A principal característica que diferencia corais-verdadeiras de falsas-corais é a dentição: nas corais verdadeiras a dentição é proteróglifa. Esse é o caráter mais confiável para se diferenciar esses animais.
As cobras não-peçonhentas são áglifas ou opistóglifas.
A seguir, as principais medidas para prevenir acidentes com cobras e os primeiros socorros a serem oferecidos às vítimas, segundo publicações do Ministério da Saúde e do Instituto Butantã de São Paulo.

Como prevenir acidentes
·         Oitenta por cento das picadas atingem as pernas, abaixo dos joelhos. Use botas ou botinas com perneiras de couro.
·         Dezenove por cento das picadas atingem as mãos ou antebraços. Use luvas de aparas de couro para remexer em montes de lixo, folhas secas, buracos, lenha ou palha. Afaste galhos com um pedaço de pau.
·         Cobras gostam de se abrigar em locais quentes, escuros e úmidos. Cuidado ao mexer em pilhas de lenha, palhadas de feijão, milho ou cana. Cuidado ao revirar cupinzeiros.
·         Onde tem rato, tem cobra. Não deixe amontoar lixo. Limpe paióis e terreiros. Feche buracos de muros, portas e janelas.
·         Atenção ao calçar sapatos e botas. Animais peçonhentos podem se refugiar dentro deles.
·         Lembre-se: na natureza não há vilões. Não mate cobras simplesmente por estarem vivas. Elas mantêm o equilíbrio natural, comendo roedores, que transmitem doenças e dão prejuízos nas plantações e paióis.
(Instituto Butantã, São Paulo)

Primeiros socorros
·         Não se deve arrumar ou fazer torniquete, para isolar o veneno na região atingida. O garrote impede a circulação do sangue, podendo produzir necrose ou gangrena. O sangue deve circular normalmente. Também não se deve colocar na picada folhas, pó de café, terra, fezes, pois podem provocar infecções.
·         Não se deve cortar o local da picada. Alguns venenos podem provocar hemorragia. Os cortes feitos no local da picada com canivetes e outros objetos não-desinfetados favorecem as hemorragias e infecções.
·         Não se deve permitir que o acidentado beba querosene, álcool, urina ou fumo, pois além de não ajudarem podem causar intoxicações.
·         Manter o acidentado deitado em repouso, evitando que ele ande, corra ou se locomova por seus próprios meios. A locomoção facilita a absorção do veneno e, em caso de acidente com jararacas, caiçaras, jararacuçus etc., os ferimentos se agravam. No caso de a picada ter sido dada em uma perna ou braço, é importante manter esse membro em posição mais elevada.
·         Levar o acidentado imediatamente para centros de tratamento ou serviço de saúde mais próximo para tomar o soro específico.

É importante frisar que somente o soro específico cura picada de cobra. Esses soros são: antibotrópico, contra veneno das jararacas; anticrotálico, contra veneno da cascavel; antilaquético, contra veneno da surucucu; antielapídico, contra veneno das cobras-corais.

(Adaptado de folheto do Ministério da Saúde)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Materiais e técnicas construtivas medievais

MATERIAIS E TÉCNICAS CONSTRUTIVAS MEDIEVAIS

Fungos - heróis e vilões da biosfera