Arcos e Abóbadas

Arquitetura românica
Havia uma dolorosa certeza do perigo da utilização de enormes tetos de madeira com que era coberta a nave central, à imitação dos riquíssimos lavrados romanos, pois muitos já haviam sido consumidos pelo fogo. Portanto, era desejável erguer grandes igrejas, todas de pedra, inclusive seus fechamentos superiores; isto é, dominar a abóbada de pedra, que proporcionaria ao templo solidez e perpetuidade, ao mesmo tempo que simbolismo universal em sua forma côncava. As abóbadas de pedra também eram visíveis nos edifícios civis do mundo romano e já haviam sido experimentadas nos religiosos, no bizantino, especialmente sob a forma de cúpulas.
Mas a experimentação não terminaria aqui. Com o passar do tempo comprovar-se-ia, com sucesso, que a parede não tem por que ser igualmente espessa em toda sua altura, e que lançando mão do arco pleno, elemento dinâmico e constante em toda sua construção, podia atingir um novo conceito de arquitetura, baseada nos pontos e linhas de empuxo e resistência. É certo que isto só se consegue com perfeição no gótico, porém agora já existe uma preocupação de consegui-lo.
Nos albores do século XI, muitos desses produtos do primitivo românico, dirigidos pelos mestres do lago de Como, que se materializam na atual Suíça e no nordeste espanhol (Catalunha), já começam a ser cobertos com abóbada de berço contínuo ou com arcos de cinta.
Mas ao se atingir o final do primeiro traço desse século XI, as grandes abóbadas começam a ser consideradas já desde os fundamentos, e todo o edifício será construído em função delas. Salvo casos excepcionais, será escolhida a abóbada de berço reforçada com arcos de cinta, pois estes, além de descarregar o grande peso em pontos concretos, facilitam a construção ao ter-se que utilizar cambotas de madeira menores; desse modo, o empuxo cai em diagonal sobre a parede e é distribuído pelos arcos de cinta até o grosso pilar e o contraforte exterior, tendo às vezes, a tribuna como elemento intermediário oblíquo.

Arquitetura gótica
Os elementos arquitetônicos que configuram as construções (principalmente o arco ogival e a abóbada de ogivas) foram tomados do repertório próprio da arquitetura românica normanda.
Contrariamente ao que se pretendeu em outros tempos, não é possível definir globalmente a arquitetura gótica com base nos elementos que a configuram. Todavia, é evidente que alguns deles tornam-se arquetípicos no contexto de um modelo como a catedral gótica.
Em primeiro lugar, é preciso mencionar o arco ogival e a abóbada sobre cruzamento de ogivas ou abóbada de ogivas, cujas origens são remotas, pois foram usadas no contexto da arquitetura românica normanda.
A abóbada de ogivas é considerada uma estrutura mais dinâmica que as abóbadas de berço e de aresta, visto que através de seu esqueleto de nervuras (que convergem em torno da chave da abóbada) é possível canalizar as tensões para alguns pontos concretos. Contudo, seu emprego facilitou extraordinariamente os trabalhos de construção e permitiu reduzir a espessura dos panos em benefício de uma maior leveza das abóbadas.
Cada vão fica praticamente independente dos demais. Separam-nos os arcos de cinta. Os arcos dispostos no sentido longitudinal da nave denominam-se formaletes. A partir da utilização coerente das abóbadas de ogivas foi possível abarcar superfícies cada vez maiores.
Analogamente, foi possível dar soluções efetivas – e visualmente mais satisfatórias – à maioria dos problemas de cobertura que as igrejas apresentavam (não somente na nave central e nas laterais, como também – e com maior frequência – nos presbitérios, deambulatórios, capelas radiais, etc.), assim como abrir grandes vãos livres que seriam cobertos com vitrais.
O modelo mais elementar de abóbadas de ogivas consta de duas ogivas entrecruzadas, que dão lugar a quatro panos. Nesse caso, denomina-se abóbada quadripartida. Nas primeiras catedrais góticas também era habitual a abóbada sexpartida, dividida em seis entrecortes, por causa da interposição de uma nervura transversal.
Em etapas mais avançadas, a estrutura das abóbadas tende a se complicar. O aparecimento de nervuras intermediárias dá lugar às abóbadas de terciarão e estreladas e, por fim, às abóbadas em leque.
Os arcos também evoluem. O próprio arco ogival pode ter múltiplas variações, segundo a proporção entre sua altura e seu vão (largura). Em casos extremos denominar-se-á arco lanceolado.
Igualmente, são característicos da arquitetura gótica os arcos em asa de cesto.


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