Fungos - heróis e vilões da biosfera
À primeira vista, os fungos são pouco interessantes. Mas eles contribuem
de forma decisiva para a preservação de diversidade biológica do nosso planeta
e estão presentes, de mil formas, no nosso cotidiano.
Os refrigerantes, por exemplo, são produtos fúngicos, porque a maioria
tem ácido cítrico, produzido por um fungo, o Aspergillus lividus, que é usado
industrialmente.
Poderíamos citar numerosos exemplos de fungos que estão presentes em
nosso cotidiano, mas o que interessa ressaltar é que, dentre a rica
biodiversidade brasileira, uns 20% são fungos. Existem 1,5 milhão de espécies
do Reino Fungi, a maior parte delas invisível a olho nu.
Assim como algumas espécies de bactérias, os fungos atuam no ambiente
como agentes da decomposição, permitindo a reciclagem de nutrientes. Se
houvesse, por exemplo, um grande cataclismo que eliminasse os decompositores da
face do planeta, o cenário que se poderia imaginar seria uma gradativa
acumulação, nos sistemas terrestre e aquático, de matéria orgânica
não-decomposta (galhos de árvores, restos de animais etc.), fazendo com que todo
o equilíbrio da biosfera ficasse comprometido.
Os fungos na feitiçaria e na
culinária
Os cogumelos, por serem visíveis a olho nu, sempre despertaram o
interesse das primeiras civilizações. Uma das características do cogumelo é a
velocidade com que ele se desenvolve. Olha-se um dia para o tronco de uma
árvore caída e não tem nada ali; no dia seguinte, há uma abundância enorme de
cogumelos sobre ele. Na cultura cheia de superstição do passado, esse
crescimento foi interpretado como algo mágico, como bruxaria. Na América
Central, no México e na Guatemala, as civilizações pré-colombianas faziam uso
de cogumelos nos seus rituais, e até hoje no interior desses países os mercados
sempre estão repletos de diversos tipos de cogumelos comestíveis.
No Brasil, uma pesquisa sobre os nomes dados aos fungos entre os povos
indígenas mostrou que essas denominações eram carregadas de aspectos negativos.
Fungo nas línguas indígenas é sinônimo de coisa ruim, imprestável. Só os
ianomâmis têm para eles uma lista grande de nomes sem essas conotações,
indicando inclusive o uso que fazem de cogumelos, sobretudo na culinária. De
fato, os ianomâmis consomem cogumelos de diferentes tipos, mas não há registro
do seu uso como alucinógenos.
Os fungos são apreciados na culinária também desde épocas muito antigas.
No Império Romano, a espécie de cogumelo Amanita cesariae foi assim batizada
por ter sido reservada aos Césares. Outros cogumelos comestíveis eram de uso
exclusivo dos nobres.
A Micologia médica é a área da Micologia que estuda as doenças causadas
por fungos no ser humano. A maioria dos fungos capazes de causar infecção vive
da matéria orgânica em decomposição. Vejamos um exemplo: o Cryptococcus
neoformans - agente da criptococose - é encontrado em quantidade nos espaços urbanos
associados a habitats de pombos e de psitacídeos (papagaios, periquitos etc.).
O excremento desses animais favorece a proliferação dos fungos e, quando
resseca, espalha-se em pequenas partículas na poeira. Inalado, o fungo chega ao
alvéolo pulmonar, onde pode se instalar e causar lesões, especialmente em
pessoas cujas defesas estejam baixas.
Apesar de causarem doenças, algumas espécies de fungo são capazes de
produzir substâncias que atuam como antibiótico.
*Adaptado de artigo publicado na Revista Ecologia e Desenvolvimento, 83ª ed., jul./ago. 2000
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