Sangue de cordão umbilical: doar ou congelar para uso próprio?
Qual das
formas de armazenamento é a mais indicada para utilizar as células-tronco do sangue
de cordão umbilical como terapia?
Terapias com
células-tronco são um tema que fascina o mundo científico e o leigo. Porém,
essa ainda é uma área em que há mais promessas que aplicações clínicas
comprovadas – dentre estas últimas, o uso do sangue de cordão umbilical, como
alternativa ao transplante de medula óssea em casos de leucemia. Esse sangue é
rico em células-tronco, que tem a capacidade de se diferenciar, formando outras
células e restaurando a medula afetada. Outras possibilidades, como a aplicação
para regeneração do músculo cardíaco ou tecidos nervosos, permanecem no campo
das pesquisas. Serão realidade no futuro? Só o tempo dirá.
No entanto,
é em nome dessas promessas que muitas mães optam por congelar o sangue do
cordão umbilical de seus bebês em bancos privados, pagando pela coleta e
armazenagem do material. Acreditam estar fazendo uma espécie de seguro, que
poderá beneficiar a criança ou outros familiares. Imaginam que, futuramente, se
alguém tiver um problema de fígado, por exemplo, será possível pegar
células-tronco desse estoque particular e usar para regenerar o órgão. É uma
aposta. Por enquanto, esse sangue praticamente só serviria para um tratamento
de medula da criança ou de um parente próximo – uma possibilidade remota, já
que a leucemia atinge 1 em cada 200 mil pessoas. Em 20 anos de existência de
bancos privados, são raríssimos os casos do mundo de uso de material autólogo
(próprio) para tratamento de leucemia.
Doado a um
banco público, o sangue de cordão umbilical possivelmente teria maior
utilidade. Cerca de 70% dos pacientes que precisam de um transplante de medula
não tem um doador compatível na família. Nesses casos, uma alternativa é
recorrer ao Registro de Doadores de Medula, um banco pessoas que manifestam
intenção de doar, mas que só efetivam a doação mediante disponibilidade e
quando há um receptor compatível. A outra possibilidade é o Banco Público de
Sangue de cordão Umbilical, onde o material já está efetivamente armazenado e
pode rapidamente ser utilizado, com a vantagem de que estas células exigem
menos compatibilidade genética (70%).
Os bancos
públicos têm condições de reunir material representativo da diversidade étnica
e genética da população. No Brasil, a Rede BrasilCord, formada pelo Ministério
da Saúde em 2002, conta com cerca de 6 mil cordões e tem como meta chegar a 60
mil cordões, a fim de cobrir a diversidade genética de nossa população. Em
2009, 50% dos transplantes de medula não aparentados (pacientes que não
encontraram doador na família) feitos no Brasil utilizaram sangue de cordão
umbilical de bancos públicos do país ou do exterior.
Pelas
reduzidas possibilidades de uso efetivo em benefício próprio ou de familiares,
várias entidades dos Estados Unidos e Europa desaconselham a opção pelo banco
privado. Evidentemente, as pessoas são livres para fazer suas escolhas. Mas
precisam estar conscientes. Hoje, a doação do cordão ao banco público pode
ajudar a salvar vidas. Optar pelo banco privado, por enquanto, é investir em
promessas.
*Publicado
na Revista Veja – Edição 2188 – ano 43 – nº 43 de 27 de outubro de 2010 – pág.
53.
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