O justo ciúme que fez nascer Castanhal

Os primeiros dias de 1932 foram de agitação política em Castanhal e Apeú, a 68 quilômetros de Belém. Em 30 de dezembro de 1931, a Vila de Santa Izabel do Pará foi elevada à categoria de município. Não sem crise política e ensaio de revolta na vizinhança. Mesmo com melhor infraestrutura para ser município, a vila de Castanhal estava sendo preterida. Diante dos protestos, o interventor Magalhães Barata foi rápido: 29 dias depois de criar Santa Izabel, elevou também Castanhal a município. Por causa de um justo ciúme, Barata concretizava o sonho da emancipação de Castanhal. A história começa bem antes do decreto do interventor, no início da conturbada década de 1930. Remonta 1885, quando os trilhos da Estrada de Ferro de Bragança chegaram à localidade. Uma das mais importantes figuras da imigração nordestina, Antônio de Souza Leal, não pôde conter, embora se empenhasse, a paralisação da obra da ferrovia, faltando 65 quilômetros para chegar a Belém. A falta de dinheiro e a febre amarela impediam o avanço dos trilhos. Mas nem isso, ao contrário do que pensava o “Coronel Leal”, afetou o desenvolvimento da localidade. Naquela época, Castanhal já despontava para uma economia diferenciada, tal o potencial do comércio e da agricultura. Segundo o historiador e memorialista local, José Lopes Guimarães, “esse crescimento acelerado, mesmo acompanhado de maus momentos, fez com que o então núcleo levasse pouco tempo para se transformar na próspera Vila”, candidatando-se a município. Concluída a ferrovia (fechada e desmontada no governo Castelo Branco, quando a Amazônia virou o grande centro da política rodoviarista dos militares), o município haveria de empreender sua jornada definitiva rumo ao desenvolvimento. A passagem dos trilhos, a caminho da capital – o que muitos, naquela época, já não acreditavam pudesse acontecer – “deu o impulso espetacular ao local. Mas Castanhal é o que é, hoje, graças, principalmente, à pujança dos seus desbravadores” – diz Guimarães.

Revista Veja – Edição 2149 – ano 43 – nº 4 de 27 de janeiro de 2010 – Pág. 66.


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