Déficit de atenção e hiperatividade começam na infância e podem continuar na vida adulta
Embora seja um problema bem estudado e tenha
tratamento, nem sempre esse transtorno é identificado ou diagnosticado
corretamente. Pior, ainda há quem acredite que se trata apenas de um mito.
Distraídos, agitados, bagunceiros,
desorganizados... É extensa a lista de adjetivos usada para definir crianças e
adultos que apresentam, de maneira intensa e frequente, comportamentos e
atitudes diferentes do padrão. Os pais acham que os filhos são
"elétricos" ou que vivem no mundo da lua. A escola reclama do aluno
que tumultua a classe e não presta atenção à aula. A criança não vai bem nas
provas ou é isolada pelos colegas, pois abandona as brincadeiras ou as
atrapalha. Esses podem ser alguns indícios do Transtorno do Déficit de Atenção
e Hiperatividade (TDAH).
O problema atinge de 5% a 6% das crianças,
independentemente de país ou fatores culturais, e acompanhará o indivíduo na
vida adulta em mais da metade dos casos. Na infância, geralmente está associado
a dificuldades na escola e nos relacionamentos com pais, professores e outras
crianças. Na fase adulta, prejudica as atividades nos âmbitos profissional,
familiar, afetivo e social.
Difundido pela Organização Mundial da Saúde,
consenso médico internacional e tema de inúmeros estudos, o TDAH ainda é pouco
conhecido e alvo de polêmicas. Mesmo entre profissionais de saúde, há quem o
considere um mito, ignorando as alterações detectáveis no cérebro dos
portadores do transtorno - justamente nas regiões responsáveis pela inibição de
comportamentos, pela capacidade de prestar atenção, pelo autocontrole e pela
organização. Estudos também apontam alterações no sistema de
neurotransmissores, substâncias que transmitem informação entre os neurônios.
A origem do transtorno tem forte carga genética.
Mas não se acredita na existência de um "gene TDAH" e sim em uma
herança poligênica, ou seja, vários genes determinando o desenvolvimento do
transtorno.
Os sintomas são hiperatividade, impulsividade e/ou
falta de atenção. O diagnóstico não é simples, mas o que pode definir a
presença do transtorno é a ocorrência de vários desses sinais em pelo menos
dois ambientes (em casa e na escola, por exemplo), por um período superior a
seis meses e em intensidade que resulte em prejuízos ao indivíduo no convívio
social, familiar ou escolar. Como não há exames específicos para identificar o
problema, o diagnóstico é feito com base no histórico do paciente. Além disso,
de 60% a 70% dessas pessoas apresentam um ou mais problemas associados, como
dislexia, transtorno bipolar, ansiedade e depressão.
O tratamento inclui terapias com fonoaudiólogo,
psicólogo ou terapeuta ocupacional, se necessário. Mas o uso de medicamentos é
fundamental. Os mais adotados integram um grupo específico de estimulantes que
ajudam no bom funcionamento das áreas do cérebro que apresentam alterações
nesses pacientes. Vários estudos atestam seus efeitos positivos. Quando usados
corretamente, esses remédios não causam dependência e seus efeitos colaterais
são leves ou inexistentes. No entanto, como todo tratamento, requer
acompanhamento médico.
Em alguns casos, o transtorno é minimizado ou
estabilizado com o passar dos anos. Mas mais de 50% das crianças com TDAH
permanecerão com o transtorno na idade adulta. Portanto, o melhor caminho é o
da informação e do conhecimento. Fique atento aos sinais. Quanto mais precoce o
diagnóstico e o tratamento, maiores as chances de um eficiente controle do
transtorno, com benefícios para o paciente e para todos que convivem com ele.
*Publicado na revista Veja edição 2150 - ano 43 -
nº 5 - 3 de fevereiro de 2010
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