As várias faces de Resende
O município de Resende, localizado no limite do
estado do Rio de Janeiro, fronteira com São Paulo e Minas Gerais, é mais que
uma simples cidade. Seu território é tão grande - com mais de 1100 quilômetros
quadrados - que engloba diversos núcleos completamente diferentes entre si, como
os distritos das Agulhas Negras, de Visconde de Mauá, da Pedra Selada, da
Fumaça e de Engenheiro Passos, cada um com sua própria personalidade.
Essa grande diversidade dentro de um único
território faz de Resende um destino completo para o turista. Quem gosta de
história encontra em seus casarões e antigas fazendas memória vívidas de uma
época em que Dom Pedro I passava pela região com sua comitiva. Quem busca o
contato com a natureza fica dividido entre subir o Pico das Agulhas Negras ou
mergulhar no poço de uma das dezenas de cachoeiras da região. Aqueles que
querem relaxar e comer bem descobrem em Visconde de Mauá, Maringá e Maromba um
retiro perfeito para o corpo e a mente. Até os interessados pela arte da guerra
encontram um grande atrativo, no caso, a Academia Militar das Agulhas Negras,
que reserva um arsenal de informações.
Além de seu potencial turístico, Resende cresce em
ritmo acelerado e se consolida como um dos grandes polos industriais no Vale do
Paraíba, atraindo cada vez mais investimentos para a região. Mesmo estando ao
lado de montanhas que, de tão altas, chegam a tocar as nuvens, Resende mantém
os pés no chão ao escrever sua história rumo ao futuro.
A história da cidade começou em meados do século
18, quando o bandeirante Simão da Cunha Gago batizou a região, habitada pelos
índios Puris, de Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre da Paraíba Nova.
Apesar do nome, o vilarejo cresceu rapidamente devido à sua localização, no
eixo Rio de Janeiro-São Paulo, e por ter sido um dos pontos de descanso do
imperador Dom Pedro I e de sua comitiva, durante suas inúmeras viagens pelo
Vale do Paraíba.
Por volta de 1770, as primeiras mudas de café foram
plantadas na vila, que em pouco tempo estava repleta de fazendas cobertas por
imensos cafezais. A boa adaptação às condições da terra e a crescente demanda
internacional fez com que a cultura do café ultrapassasse as fronteiras de
Resende e se espalhasse por todo o Vale do Paraíba e estados vizinhos. Por
causa das riquezas geradas pelo disputado grão, Resende cresceu e virou cidade.
Muitos dos casarões e igrejas ainda presentes em seu centro histórico são
daquela época.
O café sustentou a economia da região até 1850, quando
sua desvalorização no mercado internacional levou à diversificação da economia
local. Somado à crise, o posterior fim da escravatura acarretou o início de uma
nova etapa na história da cidade, que começou a receber imigrantes europeus
para trabalhar em suas plantações.
No início do século 20, a região de Resende já
contava com imigrantes de diversos países. Muitos italianos foram trabalhar nas
lavouras, mas, curiosamente, alemães e finlandeses também se instalaram ali. O
clima ameno favoreceu a adaptação dos europeus.
Os estrangeiros foram responsáveis por dar a Penedo
e a Visconde de Mauá todo o charme europeu. Isso, aliado ao clima e às belezas
naturais da Serra da Mantiqueira, fez com esses vilarejos se tornassem
importantes polos turísticos fluminenses.
A vila de Penedo é marcada pela influência de um grupo de finlandeses que se arriscou, em
meados da década de 1920, a embarcar em uma Viagem em
Direção à Magia do Tropico - título do livro do escrito por Toivo Uuskallio, que
motivou a vinda de centenas de finlandeses para o Brasil. Muitos se
estabeleceram em Penedo, mas, com o passar do tempo, a maioria acabou
retornando a seu país de origem. Os poucos que ficaram se dedicaram a receber
seus contemporâneos e quem mais quisesse conhecer a vida simples e agradável
que levavam em meio à natureza dos trópicos. Esse foi o início das inúmeras
hospedagens e das tradicionais saunas finlandesas - feitas com troncos, pedras
rústicas e fornalha a lenha - que deram a Penedo o título de "Pequena Finlândia".
Com Visconde de Mauá não foi diferente. Muitas
famílias alemãs chegaram à região e se estabeleceram nos pontos altos da Serra
da Mantiqueira, especialmente nas terras que haviam pertencido a Irineu
Evangelista de Sousa, o Visconde de Mauá. Com o passar dos anos, os poucos que
permaneceram nas montanhas fluminenses criaram hotéis, dando início à atividade
turística.
Hoje, Visconde de Mauá é uma das principais
atrações do município de Resende. Seu clima de montanha e seus aconchegantes hotéis,
chalés e restaurantes, especializados em pratos à base de truta e pinhão, são
responsáveis por atrair turistas durante todo o ano. Antigamente, a maior
dificuldade era chegar a Visconde de Mauá, devido à precária estrada de terra
que servia de acesso à vila. Com a recente inauguração da primeira
estrada-parque do Rio de Janeiro, a RJ-163, que conecta Resende a Visconde de
Mauá por entre as montanhas e a mata nativa, esse problema foi solucionado.
A viagem, que antes durava algumas horas, hoje pode
ser feita em menos de 30 minutos. A estrada-parque - conceito que tem como
objetivo gerar o mínimo impacto na natureza a seu redor - facilitou não apenas
o acesso a Visconde de Mauá, como também aos vilarejos vizinhos de Maringá e
Maromba, também cortados pelas águas cristalinas do Rio Preto e famosos pelas
belezas naturais. Maromba, que nos anos 1970 já foi um centro da cultura hippie, hoje é uma
grande atração para quem quer relaxar em banhos de cachoeira, ouvir os sons da
natureza e caminhar pelas pitorescas montanhas da Serra da Mantiqueira.
Quem se hospeda em Maringá, uma agradável vila
dividida entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro pelo Rio Preto, pode
caminhar até Maromba e se banhar nas inúmeras cachoeiras da região, como a do
Poção e a do Escorrega. Quem gosta de caminhadas tem a opção de se aventurar
até o Pico das Agulhas Negras, percorrendo uma linda trilha até o topo do
Maciço de Itatiaia, o ponto culminante do estado do Rio de Janeiro e o quinto
mais alto do Brasil, com 2791 metros de altitude.
Outra parte do município de Resende é a Academia
Militar das Agulhas Negras (Aman), a maior academia militar brasileira e o
segundo maior complexo militar do mundo. A chegada da Academia, em 1943, não só
renovou a imagem da cidade, como ajudou a mantê-la mais segura e a atrair
diversos investimentos para a região. Isso explica o orgulho de todo resendense
ao falar sobre a academia militar. Uma das grandes atrações da Aman é o Teatro Acadêmico, um dos maiores da América Latina,
com capacidade para 2884 pessoas e que recebe espetáculos que são abertos ao
público.
Não muito longe da academia está o distrito de
Engenheiro Passos, às margens da Rodovia Dutra, local famoso por seus inúmeros hotéis-fazenda
e sua atmosfera bucólica. Esta outra face de Resende é perfeita para quem quer
conhecer a história da região, viajar para uma época em que o café cobria as
montanhas e tudo seguia um ritmo mais lento.
A magia de Resende está em sua grande diversidade,
tanto geográfica quanto cultural, que permite ao visitante ir de uma das
maiores academias militares do mundo ao centro da cultura hippie em poucos
minutos, ou mesmo passear pelo Brasil, Alemanha e Finlândia, em
apenas um dia.
*Revista TRIP - Junho/2012
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